Parte XII: Imperador Wu de Liang

A China tem uma longa e gloriosa conexão com o Budismo. É o país onde Ch’an (Zen) se enraizou e onde grande parte da arte e da cultura de inspiração budista de renome mundial floresceu e cresceu.

Há relatos dos ensinamentos chegando ao país já em 217 aC e, depois desse primeiro encontro, a China produziu muitos grandes imperadores patronais que espalharam as palavras do Buda para os distantes cantos do país. O imperador Ming (58-75 CE), por exemplo, enviou uma delegação à Índia para aprender mais sobre o Dharma. Eles voltaram com as escrituras carregadas nas costas dos cavalos brancos, o que resultou no famoso Templo do Cavalo Branco, perto de Luoyang, que foi construído para abrigá-los.

Vários séculos depois, o Imperador Wencheng (440-465 CE) é creditado com o apoio à construção das exuberantes esculturas budistas nas Grutas de Yungang, perto de Datong. O imperador Xuanzong de Tang (846-859 CE) foi outro grande patrono que ajudou a reviver o Dharma, enquanto o Imperador Suzong (756-762 CE), um antecessor na Dinastia Tang, tem a reputação de ter construído lagoas para soltar e salvar animais aquáticos em 81 locais, para criar condições propícias à paz e à harmonia após um longo período de rebelião.

Talvez o mais colorido e famoso de todos os imperadores budistas da China, no entanto, tenha sido o Imperador Wu de Liang (502-549 CE). Embora educado no Confucionismo e seguidor do Taoísmo, liderou 20 mil pessoas em uma cerimônia durante a qual ele se proclamou como um budista. Então, ele adotou os princípios do Dharma para administrar o país, também encorajando seus súditos a renunciar à fama e ao interesse próprio. Ele mesmo repreendeu seu irmão mais novo por acumular riqueza à custa das pessoas comuns. O imperador tornou-se também um vegetariano estrito em deferência ao ideal budista de não tirar a vida dos seres para alimento e, como muitos dos imperadores budistas indianos antes dele, baniu a pena capital e proibiu o sacrifício animal nas cerimônias religiosas.

O imperador Wu era um filho superdotado, e mesmo aos sete anos de idade, ele exibia extraordinários talentos na literatura e na guerra. Mais tarde na vida, ele ganhou  reputação por sua capacidade de adivinhação, equitação, tiro com arco, escrita e caligrafia, e por sua habilidade no jogo de tabuleiro Go.

O reinado do imperador Wu durou quase cinco décadas e foi caracterizado por sua abertura e relacionamento íntimo com as bases da sociedade. Esta abordagem liberal para governar o país foi expressa de muitas maneiras, mas talvez sua iniciativa mais notável fosse ter caixas colocadas nos portões do palácio para que seus súditos pudessem oferecer, de forma anônima e gratuita, sugestões e críticas ao governo.

A fim de criar uma sociedade harmoniosa e justa, o imperador era especialmente criterioso ao nomear funcionários. Esperava que todos os potenciais candidatos fossem honestos, virtuosos e honoráveis.

Durante seu reinado, o imperador deixou suas atividades imperiais por quatro vezes, para entrar na vida monástica. Ele nunca aceitou privilégios especiais durante essas estadias no templo, mas viveu como qualquer outro monge – ficando em uma sala simples, limpando os edifícios do templo e participando das cerimônias. Ele foi saudado como modelo para os budistas leigos, bem como para toda a comunidade monástica. Devido ao seu gosto pela vida monástica e pelo incessante apoio da sangha, o Imperador Wu recebeu os títulos de “Imperador Monge” e de “Bodhisattva Imperador”.

O imperador Wu também é famoso por criar uma maneira única de fornecer fundos para um monastério. Em duas ocasiões, ele se recusou categoricamente a deixar um templo e a atender aos assuntos nacionais, e o fez apenas depois que seus ministros concordaram em fazer uma doação substancial para resgatá-lo.
O apoio do Imperador Wu ao Dharma não teve precedentes nas primeiras dinastias chinesas. Ele foi um firme defensor da sangha e propagou vigorosamente os ensinamentos em todo o seu reino – na verdade, diz-se que, durante seu reinado, monastérios que abrigavam cerca de 100 mil monges e freiras se espalharam pela capital ,por 20 quilômetros em todas as direções. Seu reinado anunciou uma idade dourada do Budismo na China, e  pessoas de todos os setores da vida – da família real ao fazendeiro comum – passaram a acreditar no Dharma e a praticá-lo. O imperador morreu em 549 aos 85 anos.

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Postado em

setembro 1, 2014

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